Relatório Rio sem Homofobia mostra raio-x do preconceito
Em 1 ano e 5 meses, Leblon teve quase quatro vezes mais casos registrados que a Penha
Rio - Eleito em 2009 melhor destino gay do mundo pelo site TripOutTravel e pelo canal americano Logo, da MTV, o Rio tem estatísticas que em nada combinam com a imagem descolada e liberal que ganhou o mundo: estudo inédito feito entre julho de 2009 e novembro de 2010 contabiliza 48 registros por mês de crime presumidamente motivado por homofobia no estado todo.
Douglas foi baleado em novembro por militar do Exército depois da passeata do Orgulho Gay, em Ipanema | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Ao todo, são 776 registros. A capital lidera, com 485 casos (62,5%), e justo a Zona Sul, onde estão concentradas boates voltadas ao público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) e onde é promovida anualmente a Parada LGBT de Copa, está no topo do ranking.
O levantamento, feito pelo Programa Rio Sem Homofobia, o governo do estado do Rio de Janeiro e secretarias de Segurança Pública e de Assistência Social e Direitos Humanos, mostrou que a delegacia recordista de boletins de agressão contra LGBT é a 14ª DP (Leblon). Lá estão concentrados 7% dos casos da cidade do Rio. A delegacia da Penha teve menos de um terço desse número e a de Bonsucesso, por exemplo, também não chegou à metade.
A 35ª DP (Campo Grande) e as Delegacias de Atendimento à Mulher estão na segunda posição, com 6,8% dos registros cada, seguidas pela 9ª DP (Catete), que engloba o bairro da Glória — onde há conhecido calçadão de prostituição — com 6,4% das ocorrências.
“A Zona Sul é onde há mais lugares com diversão para o público gay. O que preocupa é que, se há grande procura nas delegacias de lá, a vítima pode estar se sentindo inibida de fazer o registro no seu bairro de origem”, disse o superintendente estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difuso, Claudio Nascimento.
O levantamento, feito pelo Programa Rio Sem Homofobia, o governo do estado do Rio de Janeiro e secretarias de Segurança Pública e de Assistência Social e Direitos Humanos, mostrou que a delegacia recordista de boletins de agressão contra LGBT é a 14ª DP (Leblon). Lá estão concentrados 7% dos casos da cidade do Rio. A delegacia da Penha teve menos de um terço desse número e a de Bonsucesso, por exemplo, também não chegou à metade.
A 35ª DP (Campo Grande) e as Delegacias de Atendimento à Mulher estão na segunda posição, com 6,8% dos registros cada, seguidas pela 9ª DP (Catete), que engloba o bairro da Glória — onde há conhecido calçadão de prostituição — com 6,4% das ocorrências.
“A Zona Sul é onde há mais lugares com diversão para o público gay. O que preocupa é que, se há grande procura nas delegacias de lá, a vítima pode estar se sentindo inibida de fazer o registro no seu bairro de origem”, disse o superintendente estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difuso, Claudio Nascimento.
O mapa da homofobia no estado aponta que, dos 92 municípios, 42% tiveram alguma ocorrência de violência contra homossexuais notificada. Depois da capital, a Baixada Fluminense, com 15,1% dos casos, é onde há maior número de registros. Nessa região, Comendador Soares está no alto da lista, com 21,3% das situações levantadas.
“Esses dados mostram que a homofobia está presente em todo o estado. Esses números poderiam ser ainda maiores, se não fosse o medo. Queremos transformar um ciclo vicioso de impunidade num círculo virtuoso de cidadania”, explicou Nascimento.
Segundo o estudo, homens entre 30 e 39 anos são os que mais sofrem preconceito. Entre as lésbicas, as estudantes, donas de casas e comerciantes são os principais alvos. A maioria das ocorrências ocorre por injúria, ameaça e furto.
Alvo e autor de agressões são, na maioria, homens
Os homens não são só as principais vítimas de homofobia, eles também são os principais agressores. O estudo mostra que pelo menos 50,6% dos autores de delito são do sexo masculino — só 16% são mulheres e 33,4% não tiveram sexo identificado — e a maioria tem entre 30 e 39 anos.
A travesti Rafaela Muniz, 25 anos, reconhece, nas estatísticas, o retrato de seus algozes no dia a dia. No final do ano passado, ela foi barrada na porta de uma casa noturna na Lapa. Primeiro, informaram a ela que não poderia entrar por causa da roupa curta. Ao voltar de calça jeans e camiseta, dois seguranças informaram que o lugar não aceitava travestis.
“Passei por um constrangimento horrível. As pessoas olhando e os funcionários falando que não poderia entrar por causa da minha orientação sexual. Me senti pior que um animal”.
“Esses dados mostram que a homofobia está presente em todo o estado. Esses números poderiam ser ainda maiores, se não fosse o medo. Queremos transformar um ciclo vicioso de impunidade num círculo virtuoso de cidadania”, explicou Nascimento.
Segundo o estudo, homens entre 30 e 39 anos são os que mais sofrem preconceito. Entre as lésbicas, as estudantes, donas de casas e comerciantes são os principais alvos. A maioria das ocorrências ocorre por injúria, ameaça e furto.
Alvo e autor de agressões são, na maioria, homens
Os homens não são só as principais vítimas de homofobia, eles também são os principais agressores. O estudo mostra que pelo menos 50,6% dos autores de delito são do sexo masculino — só 16% são mulheres e 33,4% não tiveram sexo identificado — e a maioria tem entre 30 e 39 anos.
A travesti Rafaela Muniz, 25 anos, reconhece, nas estatísticas, o retrato de seus algozes no dia a dia. No final do ano passado, ela foi barrada na porta de uma casa noturna na Lapa. Primeiro, informaram a ela que não poderia entrar por causa da roupa curta. Ao voltar de calça jeans e camiseta, dois seguranças informaram que o lugar não aceitava travestis.
“Passei por um constrangimento horrível. As pessoas olhando e os funcionários falando que não poderia entrar por causa da minha orientação sexual. Me senti pior que um animal”.
Estudantes e cabeleireiros são principais vítimas
Foi justamente na recordista de registros de homofobia, a Zona Sul do Rio, que o estudante Douglas Igor Marques, de 19 anos, viveu momentos de terror, em novembro. Com um grupo de amigos homossexuais no Arpoador, em Ipanema, ele foi baleado por um militar do Exército e quase morreu.
O que Douglas não sabia é que estudante são algumas das principais vítimas deste tipo de crime. Pelo menos 13,5% dos agredidos têm a mesma ocupação do jovem agredido do Arpoador, segundo a pesquisa do Rio Sem Homofobia. Os cabeleireiros, com 6,5%, aparecem em segundo lugar como vítimas que mais procuram as delegacias para registrar boletim. Em seguida, vêm os aposentados, com 6%, funcionários públicos, com 4%, e militares, com 3,5%.
“Assumi minha homossexualidade aos 12 anos e nunca pensei que o preconceito levaria uma pessoa a atirar na outra. Achei que iria morrer. Enquanto a lei que criminaliza a homofobia não for aprovada, nós, homossexuais, nunca teremos paz”, diz o jovem, que foi atingido ao sair da passeata do Orgulho Gay.
Foi justamente na recordista de registros de homofobia, a Zona Sul do Rio, que o estudante Douglas Igor Marques, de 19 anos, viveu momentos de terror, em novembro. Com um grupo de amigos homossexuais no Arpoador, em Ipanema, ele foi baleado por um militar do Exército e quase morreu.
O que Douglas não sabia é que estudante são algumas das principais vítimas deste tipo de crime. Pelo menos 13,5% dos agredidos têm a mesma ocupação do jovem agredido do Arpoador, segundo a pesquisa do Rio Sem Homofobia. Os cabeleireiros, com 6,5%, aparecem em segundo lugar como vítimas que mais procuram as delegacias para registrar boletim. Em seguida, vêm os aposentados, com 6%, funcionários públicos, com 4%, e militares, com 3,5%.
“Assumi minha homossexualidade aos 12 anos e nunca pensei que o preconceito levaria uma pessoa a atirar na outra. Achei que iria morrer. Enquanto a lei que criminaliza a homofobia não for aprovada, nós, homossexuais, nunca teremos paz”, diz o jovem, que foi atingido ao sair da passeata do Orgulho Gay.
Jovem morto estava com gays
Nesta quinta-feira, a assistente administrativa Angélica Vidal Ivo, 40 anos, vai à terceira audiência do que ela chama de “causa da sua vida”. No processo, estão os últimos passos do filho, o estudante Alexandre Ivo Rajão, 14, morto, em São Gonçalo, por ser considerado homossexual.
A luta da mãe é para provar que o filho foi uma vítima porque estava com gays. “Estive com o investigador no Instituto Médico Legal (IML) e ele não me disse que se tratava de um crime de ódio. A Justiça, na minha condição social, não existe. Só acontece para quem pode bancar um advogado”, diz Angélica Vidal Ivo.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o caso de Alexandre é uma exceção. Dos 776 registros de homofobia, apenas 8,5% estão em andamento. A maioria, 33%, encontra-se no Juizado Especial Criminal, por ser considerada crime de menor potencial ofensivo.
Reportagem de Mahommed Saig e Christina Nascimento
LINK da REPORTAGEM:
OBS: Aproveitamos o momento para reforçar o convite da III AUDIÊNCIA, no Forum novo de São Gonçalo - RJ, dia 03/02/2011, a partir das 14 horas.
Abraços fraternos
Angélica Ivo (mãe), Paula Ivo (irmã) e Marco José Duarte (primo)