ALEXANDRE IVO (21-06-2010)
DOMINGO, 21 DE JUNHO DE 2015. Há exatos cinco anos, Alexandre Ivo, 14 anos, aluno do 9º ano do ensino fundamental, era brutalmente assassinado em São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio de Janeiro. Os principais suspeitos e acusados pelo crime, Alan Siqueira Freitas, Eric Boa Hora Bedruim e André Luiz Cruz Souza, até hoje não foram julgados e respondem em liberdade.
Era dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo que ocorria na África e Alexandre tinha ido a uma festa onde houve uma briga. Embora o jovem não tivesse ligação com a confusão, seus amigos, dois deles gays, foram agredidos pelos acusados. Solidário, Alexandre acompanhou os amigos ao pronto-socorro. Quando esperava pelo ônibus para voltar para casa, foi sequestrado, depois espancado, torturado e assassinado por estrangulamento, como viria a indicar o laudo do Instituto Médico Legal (IML). Seu corpo foi encontrado um dia depois, em um terreno baldio, com o crânio esfacelado, provavelmente por pedradas.
Pelas circunstâncias do crime, Alexandre teria sido mais uma vítima da violência homofóbica, ódio ainda sem lei, que mata centenas de brasileiros e brasileiras por ano pelo simples fato de serem quem são.
O delegado que cuidou do caso, Geraldo Assed, da 72ª DP de Homicídios de São Gonçalo, disse à imprensa suspeitar que o crime tenha sido praticado por skinheads e motivado por intolerância. Pelas provas colhidas, disse o delegado à época, “tudo indica que foram eles” [os acusados]. Exame de DNA nas amostras de sangue colhidas no carro de um dos acusados, o brigadista Eric Boa Hora Bedruim, apresentou compatibilidade com o material cedido pela mãe de Alexandre, Angélica Ivo. De um total de 15 amostras coletadas em diferentes pontos no veículo, 13 resultaram positivo.
Dois dias depois do crime, os suspeitos chegaram a cumprir prisão temporária e preventiva, acusados de praticar homicídio duplamente qualificado por motivo torpe. No entanto, trinta dias depois, foram soltos por habeas corpus por serem réus primários, possuírem residências fixas e pela insuficiência de provas para condená-los. O processo, comprometido por erros cometidos no início das investigações, arrasta-se até hoje.
Ao longo de todo esse tempo, em meio a dor do luto sem fim que a impunidade inflige, a mãe de Alexandre trava sua batalha por justiça, enquanto tenta implementar um projeto anti-homofobia em São Gonçalo, onde outros casos de crimes de ódio já aconteceram.
Às vésperas de se completarem cinco anos da perda abrupta do seu filho caçula, Angélica Ivo, 45 anos, mãe também de Paula, 21, falou com exclusividade ao portal ECO Brasília, por telefone. Na conversa, ela destaca a dificuldade de se tipificar crimes de ódio no país e o despreparo da polícia ao lidar com esses crimes. Também deixa uma mensagem para Wanderléa Barbosa, mãe do estudante Rafael Melo, de 14 anos, morto a pauladas e pedradas no último dia 13, em Cariacica (ES), crime que a família da vítima suspeita ter sido motivado também por homofobia.
Como a senhora avalia esses cinco anos de trajetória do processo criminal e em que situação ele se encontra hoje?
Esses cinco anos todos para mim se tornaram perdidos, porque o inquérito do meu filho foi todo feito de forma errada. As informações foram colhidas de forma inadequada, os profissionais envolvidos, tanto Política Civil, Polícia Técnica, não tiveram o zelo necessário. Há cinco anos atrás eu não sabia que existiam crimes de ódio, esse tipo de crime, homofóbico, e nem sabia que os policiais tivessem de ter esse tipo de conhecimento. E um crime de ódio só é tipificado dessa maneira quando as pessoas têm essa cultura, quando esses agentes estão preparados. E, infelizmente, o corpo do meu filho foi encontrado na rua pelos policiais. A partir daí você acha que quem o encontrou vai ter o mínimo preparo para poder passar à frente, para a perícia e para seus superiores, o que ele viu, o que de fato a cena mostrou para eles. Quando, por exemplo, uma pessoa tem envolvimento com tráfico de drogas, os policiais já têm previamente o conhecimento do tipo de morte que aquele indivíduo pode vir a sofrer. Se eles acharem que a vítima era gay, ou se era um travesti, eles sempre diminuem o ser humano, a pessoa que sofreu aquele tipo de crime. Tentam desqualificar a vítima, que passa a não ser mais vítima. E isso não foi diferente como o meu filho. As pessoas que fizeram tudo o que fizeram com ele tinham conhecimento da área, então o sequestraram, torturaram, mataram e depois jogaram o corpo dele num local frequentado por usuários de drogas. Para dizerem o quê? Que ele poderia ter sido assassinado porque tinha ido comprar, ou levar ou usar drogas. Mas só que todas as informações estavam no corpo dele. Uma pessoa que é surrada até a morte não é por causa de drogas, não é um crime específico de um usuário de drogas, até porque ele não tinha nenhuma característica de usuário ou viciado em drogas. E depois nós ficamos sabendo o que antecedeu o crime, e as imagens de câmeras mostrando o meu filho tentando voltar para casa. Meu filho era uma criança, tinha uma estatura acima da de um adolescente de 14 anos, mas ele era uma criança. Então o policial encontra o corpo nessa situação que o colocaram e não sabe de que tipo de família é. Não sabe se a família vai correr atrás, não sabe se a família vai ter medo ou se esconder, ou não vai querer falar sobre o assunto porque envolve a questão da homofobia, se é gay ou se não é. E isso é o que menos importa. Até hoje, o que eu sempre falei para as pessoas – porque sempre me perguntam sobre a questão da sexualidade do meu filho – o que mais fala alto é a violência que ele sofreu. E é isso o que a gente vem buscando até hoje: mostrar que a homofobia não pega só as pessoas que vivem no contexto LGBT. Ela está perto de qualquer um, e chegou tão perto que matou meu filho. Quanto à sexualidade dele, eu não posso falar para ninguém aquilo que eu não ouvi do meu filho. Até porque a gente não teve nem tempo de ter essa conversa, se ele ia ter preferência por menina ou menino. Mas, se ele fosse gay ou não, ele nunca ia deixar de ser o “meu filho”.
O que ocorreu nesse processo, infelizmente, é que todas as informações necessárias para que ele se desenvolvesse corretamente estavam no corpo do meu filho e não foram coletadas devidamente. A gente não tem um instituto de análises forenses para esses tipos de crime. Pode ter para outros, mas para crimes relacionados à homofobia não tem, não se tem preparo. Foram várias as negligências e erros primários e grotescos no início do processo. E eu tenho provas disso. É tão absurdo que o próprio legista que fez o laudo cadavérico do meu filho se retifica no depoimento dele em juízo. Fala das questões das marcas que ele não colocou porque o investigador não passou as informações corretas para ele, então ele fez um laudo mais ou menos, artificial. Se eu soubesse disso, que o meu filho tinha sofrido esse tipo de crime e todas as informações estariam nele, eu não teria feito o sepultamento e teria exigido que fosse feita uma perícia de acordo com o que ele sofreu, do que ele morreu. Então, por mais que a gente tentasse consertar os erros iniciais da polícia… O corpo do meu filho chegou a ser exumado antes do período para tentar coletar novas informações, mas foi tudo feito de forma grotesca, a família não foi avisada, e eu pedi para estar lá naquele momento, e não fui atendida. Houve até corrupção policial no caso do meu filho, tanto que um indivíduo foi afastado por vender provas para dos jornais de São Gonçalo. As provas foram manuseadas, as imagens das câmeras sofreram alterações. Tudo isso prejudicou muito, sem contar o fato de que, no meio do processo, houve a morte da juíza do caso, Dra. Patrícia Acioli [assassinada em agosto de 2011 por investigar e reprimir o crime organizado no Rio de Janeiro]. Ela e o Ministério Público, detentor do processo, eram tão afinados que me fizeram acreditar que aqueles três indivíduos iam pagar pelo que eles teriam feito com o meu filho, que eles eram culpados. E hoje, esse mesmo Ministério Público já não tem mais essa certeza, porque é outro promotor, é outra juíza, eles estão vendo o processo de outra concepção. Então eu não sei se a minha luta vai ficar inacabada, vai ficar na impunidade, eu ainda não tenho essa resposta. Em junho nós recebemos um parecer do Ministério Público não favorável a nós, e agora a defensora pública que me assiste está preparando uma resposta para entregar nas próximas semanas.
E no nível pessoal, como tem sido esse período, entre a dor da perda e a luta pela justiça?
Depois de quatro anos que eu não me dei para viver o luto do meu filho porque tive de buscar a justiça, correr atrás de informações, eu precisei, forçosamente, por problemas emocionais, parar e ficar o ano passado sem trabalhar. Há algum tempo eu já queria me envolver na área da assistência social, para tentar atuar mais no meu município, que é muito carente, especialmente nessa área. E agora, há um mês, eu consegui e estou trabalhando na Secretaria de Assistência Social de São Gonçalo. Pretendo colocar meu projeto de luta contra a homofobia dentro do meu município, que já teve muitos casos nesta questão. Ainda estou no início, em passo de formiguinha. Mas o secretariado, na parte de Assistência Social, demonstrou interesse. As pessoas gostam do que eu levo, acham necessário, mas não depende só de um. Para você implementar um projeto num município como São Gonçalo, que tem mais de um milhão de habitantes, é complicado mesmo, depende de uma infraestrutura. Mas só o fato de eu estar perto de pessoas que compartilham do mesmo pensamento que o meu já tem sido uma grande conquista. Não sei quanto tempo vai demorar, porque não depende só de mim.
ATO em frente ao Fórum de São Gonçalo pelo Movimento Alexandre (V)IVO (07/12/10)
A senhora tem encontrado mais acolhimento ou barreiras ao seu projeto?
O acolhimento tem se dado pelas pessoas que me conhecem e pelas que se sensibilizam com a minha história. Mas a gente sabe que, para implementar alguma coisa no poder público é difícil, porque às vezes tem a questão partidária, tem a questão da religião. Hoje, infelizmente, a política não está separada da religião e em São Gonçalo não é diferente. Mas, mesmo dentro dessa política, eu estou encontrando agora, quase cinco anos depois da morte do meu filho, pessoas com pensamento diferentes, mais renovados, com vontade de fazer também algo diferente na questão da homofobia. Mas a dificuldade existiu, muita. Foram cinco anos que eu não consegui fazer nada em São Gonçalo, não consegui apoio. Eu fui conseguir, primeiramente, em Brasília. Foi o primeiro lugar onde eu encontrei apoio e ajuda. Quando identificamos os erros no inquérito, a gente foi a Brasília, acionamos a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e eles montaram uma equipe da Ouvidoria para acompanhar e tentar viabilizar que as coisas acontecessem de forma mais ágil e, se possível, mais segura e correta.
O PLC 122/2006, que tinha por objetivo criminalizar a homofobia no país e que foi arquivado em janeiro após passar oito anos no Senado sem obter aprovação chegou a ser batizado como “Lei Alexandre Ivo”. Como a senhora avalia essa nominação e por que, na sua opinião, o projeto não foi aprovado?
À época o Projeto de Lei da criminalização da homofobia estava em poder da então senadora Fátima Cleide [PT/RO]. Depois ela não foi reeleita e aí foi para as mãos da senadora Marta Suplicy [então PT/SP, hoje sem partido]. Só que, na mão da Marta, ela ficou negociando com a bancada evangélica e em nenhum momento me consultou para colocar o nome do meu filho no Projeto de Lei. Depois eu vim saber que foram os movimentos [de LGBT] que solicitaram isso, para mostrar que a homofobia atingia outras classes, para sensibilizar a Câmara. Só que não aconteceu. E, se acontecesse da forma como vinha sendo negociado, eu também nem queria que levasse o nome do meu filho. Porque queriam manter os discursos de ódio, e a gente sabe que a maioria desses crimes acontecem por motivação desses discursos. O projeto não foi aprovado porque a política no Brasil está sendo feita com a Bíblia debaixo do braço. O Estado laico não existe mais e a intolerância religiosa de alguns grupos deturpa a realidade e confunde o pensamento das pessoas.
Como é hoje o seu trabalho em prol dos direitos humanos e da causa LGBT? A senhora se considera uma ativista?
Eu não me considero uma ativista na íntegra. Tudo o que eu faço é um trabalho de formiguinha. A pessoa que mais me motivou foi o meu primo, Marco Duarte, que me abriu os caminhos para que eu tivesse acesso à corrente de amigos dele e consequentemente para que eu pudesse chegar no patamar onde cheguei. Eu considero a pessoa ativista aquela que tem um ideal e que luta por ele desde o início. Eu, infelizmente, cheguei nesse ativismo só tem cinco anos, e foi pela dor. Eu queria ter vindo de forma diferente, pelo amor. Mas também não vou desmerecer. As pessoas têm me requisitado, têm muito respeito por mim. Até porque da minha vida eu não tenho nada a esconder, não tenho receio de falar sobre o assunto, me engajo, me coloco, tanto que eu fui muito bem acolhida pelo público LGBT. A maioria dos contatos que recebo vem pela internet. Mas tem amigos de faculdade da minha filha, amigos de familiares meus também. E também porque tem um Centro de Cidadania em Niterói, que meu filho é patrono, dentro do programa Rio Sem Homofobia, e então também atuo por esse canal, por eles acharem que eu falo uma linguagem que todo mundo entende. O meu maior foco de atuação são os adolescentes, porque eles vivem no “mundo deles”. Acham que o perigo não existe, que nada de mal vai acontecer, têm medo de se revelar para os pais, para a família, e meu foco é falar que, se eles não encontrarem a segurança dentro de casa, não é na rua que eles vão encontrar. Que por mais que doloroso e sofrido que seja, tem que ser conversado, tem que ser falado para os pais. Por que a segurança deles primeiro é dentro de casa. Como é que eles vão conquistar o mundo se eles não conquistam o espaço deles em casa? Tem alguns pais também que chegam para falar, para perguntar como conversar com os filhos, qual o tipo de diálogo, e eu sempre falo que tem que ser o diálogo do coração. Se um respeita o outro, aos pouquinhos as coisas vão se encaixando, você vai sabendo lidar. Então é o amor que tem que falar mais alto.
Considerando que são centenas os crimes de ódio contra a população LGBT que acontecem anualmente no Brasil, e a grande maioria não alcança repercussão na imprensa, a senhora acha que o fato de o Alexandre pertencer a uma família de classe média, branca, fez de alguma maneira o caso alcançar maior repercussão?
Eu acho que no meu caso não foi, mas sim porque eu tenho pessoas na família que militam há muito tempo, que contestam, que são politizadas. A pessoa que me ajudou foi meu primo, Marco Duarte, professor na UERJ, psicólogo, assistente social, hoje na luta em prol da saúde mental, ele é uma pessoa muito politizada. Então foi porque a gente tinha amigos que tomaram nossa dor para eles e, de alguma forma, quiseram nos ajudar. Mas a gente sabe que muitos não têm esses amigos, muitos casos a sociedade não faz questão de tomar conhecimento, especialmente se a vítima é de uma comunidade, ou se é negra, ou se é travesti. Essa é minha grande luta, tirar esse pré-conceito que as pessoas têm.
Momentos da vida do Alexandre (V)Ivo
Dentro desse processo doloroso, que já dura cinco anos, qual foi o maior aprendizado?
Você sempre acha que a sua perda é maior que a do outro. Até 21 de junho de 2010, eu achava que minha casa era uma fortaleza, que nada fosse acontecer com meus filhos ou com alguém da minha família. A gente acha que a violência nunca vai chegar na nossa casa. Que a gente vai assistir ao telejornal, vai ouvir a notícia, vai ver a violência, vai se sensibilizar com as pessoas que sofreram, mas aí você desliga a televisão e aquilo tudo passou, ficou para ontem. Isso comigo não. Quando você sofre, e tem que correr atrás, lutar por justiça, ou se fosse o caso, ou lutar para salvar a vida do meu filho, se tivesse dado tempo, você aprende com isso tudo é que se você não se calar, se você não se omitir, você pode salvar outras vidas, você pode dar o alerta. Então eu acho que o meu grande aprendizado tem sido esse. Às vezes eu vou lá embaixo, mas eu me lembro que tenho minha filha, minha família, e aí eu volto. Mas não é todo dia. Tem dias que é muito difícil. Nesse domingo então vai ser um dia complicado, eu já começo a sentir as coisas antes. Mas, enfim, vou passar por ele. Mais um ano, eu vou passar por esse dia 21.
No último dia 13 de junho, a morte de outro jovem pela homofobia ganhou repercussão. Ele se chamava Rafael Melo e, assim como o Alexandre, tinha 14 anos. Como a senhora recebe esse tipo de notícia, que reproduz com tanta similaridade o que a sua família passou?
Quando eu soube eu até publiquei na rede social: como pode alguém maltratar um ser humano que a gente gera? Porque dói na alma da mãe. Dói na alma do pai e do irmão, mas dói mais na alma da mãe, porque a gente gera uma vida, a gente guarda ela, para depois vir outro e fazer essas maldades. Por quê? Esse porquê nunca vai ter resposta, a gente não entende.
O que a senhora diria para a mãe de Rafael, Wanderléa Barbosa, e para tantas outras mães que passaram por isso, e para aquelas que, infelizmente, venham ainda a passar?
É uma dor que não diminui com nada que falem para você, nada que argumentem. Todo mundo fala para mim: “ah, mas você tem uma filha”. Mas eu tinha “dois” filhos. A Paula, minha filha, ela tem o espaço dela, o lugar dela. É também o meu maior amor. Mas o lugar que era para ser de dois hoje é só de um. Isso é muito sofrimento, você fica lembrando, passando o filme na sua cabeça. Não tem palavras, não tem abraços, não tem flores, não tem nada que vá ocupar aquela ausência.
Se eu pudesse dizer algo para ela é que ela não desista nunca, que ela lute por justiça e que ela encontre forças, nisso tudo de triste que aconteceu – porque a dor dela é igual a minha, é na alma – para ela lutar para que outros casos não venham a acontecer. Infelizmente, a gente não têm esse poder. Mas uma pessoa replicando aquilo que a gente fala, aquilo que a gente acredita e deseja, já vai chegar e tocar outros corações. Cada uma pessoa que a gente consiga conquistar para que ela respeite o outro ser humano, respeita a sua condição social, sua raça, sua religião, sua orientação [afetiva-sexual], isso vai fazendo a transformação. Acho que isso já vai, de repente, acalentar o coração dela. A ferida não vai fechar nunca, mas, de certa forma, ela aos pouquinhos vai conseguir dar continuidade, sentir vontade de viver e de fazer outras coisas.
Qual a lembrança mais forte que a senhora tem do seu filho?
Às vezes eu acordo e parece até que eu estou sentindo a pele dele próxima a minha. Nós sempre saímos praticamente no mesmo horário pela manhã, eu para o trabalho e ele e a Paula para a escola. E ele sempre acordou muito cedo, era o primeiro a acordar. Tomava banho, fazia o lanche dele. Ele era muito independente. E aí ele ia me acordar. Encostava a bochecha dele na minha, e ia subindo e descendo, fazendo carinho. Dizia: “mãe, tá na hora, não dá pra dormir mais um pouquinho não!”. E falava que me amava. Ele era meu bibelô mesmo. Era carinhoso com todo mundo. Ele gostava muito de beijar, de abraçar, de dar cheiro. Às vezes parece que eu sinto a pele dele, e isso é o que mais me dá saudade.
Reportagem extraída de: http://www.ecobrasilia.com.br/2015/06/22/cinco-anos-sem-alexandre-ivo-cinco-anos-de-impunidade/