Alexandre Ivo
HÁ pouco mais de seis anos, em 21 de junho de 2010, o estudante
Alexandre Thomé Ivo Rajão, 14 anos, foi encontrado morto em um terreno baldio
no bairro Califórnia, em São Gonçalo. Alexandre foi sequestrado e torturado,
teve o seu rosto desfigurado e foi enforcado com a sua própria camiseta. Esse
crime bárbaro teve grande repercussão nacional e internacional, tendo virado
tema de documentário dirigido pelo ator inglês Stephan Fry.
Corpo do Alexandre Ivo e agentes públicos - terreno baldio - bairro Califórnia (perto do bairro Mutuá) - São Gonçalo-RJ
O assassinato de Alexandre Ivo é lembrado até os dias de hoje e se
tornou uma referência da luta contra a homofobia no Brasil. Infelizmente,
diversos erros de perícia, conforme ficou constatado, e o assassinato da juíza
que investigava com afinco o crime, Patrícia Acioli, em agosto de 2011,
resultaram na impronúncia pela nova juíza e o MP-RJ, por falta de provas. Não
houve julgamento, portanto, e os três acusados, moradores do Mutuá, continuam
soltos - mas, é importante que se registre: como réus do assassinato.
Cartaz e velas em frente ao Fórum de São Gonçalo - Vigília na oitiva
A repercussão do crime fez com que o nome Alexandre Ivo batizasse o PLC
122/2006, que visava à criminalização da homofobia no país. Mas, mesmo com uma
estatística alarmante de um caso de assassinato por LGBTfobia a cada 27 horas
[os dados de 2015 apontam que, entre os mortos, são 52% gays, 37% travestis,
16% lésbicas, 10% bissexuais, 7% de heterossexuais confundidos com gays e 1% de
amantes de travestis], em dezembro de 2014 o projeto foi arquivado pelo Senado
Federal.
O PSOL - PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE teve um papel atuante no
acompanhamento do caso Alexandre Ivo, em todos os Atos Públicos puxados pelo
Movimento Alexandre (V)IVO:
. Em 2010, no auditório da FFP/UERJ em São Gonçalo, com cobertura
jornalística, além da participação de lideranças dos movimentos sociais locais,
estaduais e nacionais, estiveram presentes os até então candidatos a Deputado
Federal, Jean Wyllys e Paulo Eduardo Gomes, e a Deputado Estadual, Janira Rocha
e Marcelo Freixo. Este último, como deputado, colocou à disposição a Comissão
de Direitos Humanos da ALERJ, em que era presidente, bem como o contato com o
Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do RJ.
Platéia no Auditório da FFP - UERJ - São Gonçalo: Candidatos a Deputado Federal Paulo Eduardo Gomes e Jean Wyllys e a Deputado Estadual Marcelo Freixo com Angélica Ivo
. Em setembro de 2010, por ocasião das festividades cívicas de
emancipação da cidade, outro Ato ocorreu na Praça Zé Garoto, com participação
de lideranças dos movimentos sociais e dos candidatos acima, dentre outros, por
ser um ano eleitoral. O Movimento Alexandre (V)IVO constituiu-se em uma ala
durante o desfile escolar.
Ala no Desfile Cívico-Escolar em São Gonçalo
. No grande Ato Público com manifestações culturais, intervenções
políticas e vigília organizado pelo Movimento Alexandre (V)IVO em frente ao
Fórum da cidade, em dezembro de 2010, com apoio da Comissão Estadual de
Direitos Humanos de LGBT do RJ e do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, por
ocasião da Oitiva, dirigida pela Juíza Patrícia Acioli, no plenário da 4ª Vara
Criminal, em que se encontravam os três assassinos e suas testemunhas,
conseguimos lotar o plenário para a sessão, com cobertura jornalística e a
presença dos movimentos sociais, coletivos e entidades locais, estaduais e
nacionais, bem como dos deputados eleitos Jean Wyllys, Janira Rocha e Marcelo
Freixo, além do vereador de Niterói e presidente da Comissão de Direitos
Humanos, Renatinho, bem como de representantes da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, a Ouvidoria da mesma, representantes de
deputados estaduais, federais e senadores comprometidos com os Direitos
Humanos, o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, a Comissão de
Direitos Humanos da ALERJ, dentre outros.
Deputada Estadual eleita Janira Rocha no Ato em frente ao Fórum de São Gonçalo
Deputado Federal eleito Jean Wyllys no Ato em frente ao Fórum de São Gonçalo
Deve se destacar também que Marco José Duarte, primo de Alexandre, já
era filiado ao partido e membro do setorial LGBT do PSOL-RJ e sempre foi
militante histórico reconhecido pelos Direitos LGBT. Angélica e Paula Ivo, mãe
e irmã de Alexandre, também se filiaram ao partido, em reconhecimento ao seu
comprometimento com a luta por Justiça no caso, assim como pela defesa da pauta
LGBT. Tanto que em 2012, por ocasião das eleições municipais, as candidaturas
do Marco e da Angélica, representantes do Movimento Alexandre (V)IVO, tendo
como uma de suas bandeiras centrais a defesa dos Direitos LGBT, organizaram um
grande debate no auditório da OAB-São Gonçalo com a presença do Deputado
Federal Jean Wyllys, por ocasião de aniversário de morte, respectivamente, dos
2 anos de Alexandre e 1 ano da Juíza Patrícia Acioli. O evento contou com a
participação dos coletivos, entidades, movimentos sociais, outros candidatos a
vereadores, e muitos estudantes e professores de escolas públicas.
Ato na OAB-São Gonçalo: Angélica Ivo, Presidente da OAB, Deputado Federal Jean Wyllys e o criminalista da OAB
Em 2012, a campanha da candidatura do Marco não se limitou a São
Gonçalo. De forma articulada à campanha da candidatura de Nicole Blass pelo
PSOL de Niterói, ambos representando a população LGBT no cenário político, se
fizeram presentes na Cantareira, lugar de lazer da comunidade LGBT, principalmente
às quintas-feiras. O Movimento Alexandre (V)IVO foi convidado pela candidata a
um evento de sua campanha em um bar por ela administrado, com a presença do
Deputado Federal Jean Wyllys, o primeiro trans-homem do Brasil, João Nery e o
candidato a prefeito pelo PSOL de Niterói, Flavio Serafini, onde Angélica pode,
juntamente com o Marco, falar do caso do assassinato de Alexandre Ivo.
Angélica Ivo falando sobre o caso Alexandre Ivo - na mesa Deputado Federal Jean Wyllys e João Nery
Marco Duarte falando sobre o caso Alexandre Ivo
Candidatos à verador@ pelo PSOL: Nicole Blass (Niterói) e Marco Duarte (Niterói)
Cabe destacar que desde 2010, portanto, o nome de Alexandre Ivo é
lembrado nas Paradas do Orgulho LGBT, não só em São Gonçalo, mas em Niterói,
Rio de Janeiro e tantas outras pelo Brasil. Ademais, há duas galerias de fotos
sobre Alexandre Ivo, tanto no auditório da SEASDH-RJ, onde se localizava o
Programa Estadual Rio Sem Homofobia (No 7º andar da Central do Brasil) e o Centro
de Cidadania LGBT da capital, como no referido centro em Niterói, que atendia a
região da grande Niterói (próximo ao bairro do Ingá, em uma antiga unidade da
Fundação Leão XIII), contemplando São Gonçalo, inclusive com o nome do centro
em homenagem a Alexandre Ivo.
Galeria de fotos de Alexandre Ivo
Recentemente uma rua no bairro do Laranjal, em São Gonçalo, recebeu o
nome de Alexandre Ivo, pela Prefeitura da cidade, como reconhecimento do seu
assassinato pela homofobia, e pode-se afirmar que o caso de Alexandre Ivo é
sempre lembrado como símbolo de luta contra a LGBTfobia, em peças teatrais
diversas, documentários, cena de novela televisiva, debates em TV,
universidades, entidades, redes, coletivos e movimentos e em campanhas contra a
homofobia, como a promovida pela ABGLT na II Conferência Nacional de Políticas
Públicas e Direitos Humanos de LGBT.
Angélica Ivo na Rua que leva o nome de Alexandre Ivo no bairro de Laranjal
Movimento Alexandre (V)Ivo em um carro em homenagem a Alexandre Ivo em uma Parada do Orgulho LGBT
A história de Alexandre Ivo nunca poderá ser esquecida por aquelxs que
lutam por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. Entendemos que o
seu martírio não foi em vão, pois simboliza não somente a luta de todos os
movimentos sociais anti-homofobia organizados no país, como também a luta de
todos que desejam uma sociedade sem qualquer tipo de violência, opressão,
dominação, exploração e desigualdades entre os sujeitos e seus gêneros, sexualidades,
raças-etnias etc.
Enterro de Alexandre Ivo no Cemitério de São Gonçalo
(reprodução do Jornal O São Gonçalo que publiciza também os suspeitos do crime)
Movimento Alexandre (V)Ivo presente em mesa no Seminário Nacional LGBT da Câmara dos Deputados
(Campanha do Casamento Civil Igualitário)
Mas não estamos rememorando esse crime hediondo somente para continuar
exigindo Justiça ou pela passagem dos seus seis anos sem julgamento. Esta CARTA
é motivada pelo fato de ter chegado ao nosso conhecimento recentemente a informação
de que Jorge Santana, candidato a vereador pelo PSOL de São Gonçalo, terra onde
nasceu e foi morto Alexandre, participou como testemunha de defesa de um dos
acusados pelo assassinato.
Jorge Santana não era filiado ao PSOL em 2010/2011. Nessa época, graduava-se
em História pela FFP/UERJ, onde entrou em 2007. Perguntado hoje a respeito
desse fato, afirma que testemunhou apenas porque os acusados, seus amigos de
infância, não eram skinheads (que era uma das acusações aos suspeitos).
Questionado, Jorge reitera não compactuar com qualquer tipo de preconceito e de
violência, mas que acredita que os seus amigos são de fato inocentes (não
sabemos das razões que o levam a fazer tal afirmação pois, como exposto acima,
uma série de situações adversas ao processo gerou a impronúncia, fato que pode
ser revertido a qualquer momento, colocando novamente os acusados no Tribunal
para exercerem seus direitos de defesa). Afirma não ser homofóbico, sob
qualquer hipótese, e que na época do crime não tinha muito conhecimento sobre a
discussão LGBT.
Movimento Alexandre (V)Ivo na Marcha Nacional contra a Homofobia e pela Aprovação do PLC 122/06.
Nós, militantes do Movimento Alexandre (V)IVO, ficamos extremamente
surpresos, constrangidos e decepcionados com a informação da participação do
Jorge Santana nesse processo. Nos perguntamos, durante esses últimos dias: por
que Jorge, apesar das inúmeras oportunidades que teve para fazer isso, tanto no
partido como junto aos familiares do Alexandre, nunca teceu comentários com
ninguém, com qualquer militante que seja, sobre sua participação nesse triste
acontecimento, apesar de ter procurado depois e se filiado a um partido como o
PSOL, para o qual as bandeiras de luta LGBT sempre foram tão caras? MAIS: por
que Jorge Santana postulou sua candidatura a vereador pelo PSOL, mesmo sob o
risco de ter a sua postura nesse episódio, caso viesse à tona, devida e
duramente questionada, como nos sentimos na obrigação de fazer neste momento?
Por que, hoje questionado, não abre mão da sua candidatura a vereador, para se
estabelecer um tempo necessário para se dirimir quaisquer dúvidas a respeito da
sua participação nesse processo? Será que essa candidatura se trata de um
projeto pessoal? Se não, será que aqueles que a defendem se sentem contemplados
com as falas do Jorge sobre a sua participação no referido processo e pensam
que essas explicações seriam suficientes? Portanto, não se importam com o
partido como um todo e com o movimento LGBT e as questões que se colocam acerca
do assassinato do Alexandre?
Movimento Alexandre (V)Ivo em frente a Igreja Matriz de São Gonçalo
O nome Alexandre Ivo se tornou uma referência para todxs xs militantes e
simpatizantes da luta por direitos LGBT. Sua morte é sempre recordada pelos
parlamentares do PSOL, mesmo aquelxs que não acompanharam de perto o processo.
A candidatura do Marco, em 2012, pelo PSOL da cidade, expressou organicamente
essa luta e bandeira, por estarem à frente, ele e Angélica, como a Paula, no
Movimento Alexandre (V)IVO. Diversxs participantes e membros da sua coordenação
de campanha, de quatro anos atrás, sem ter ciência do que aconteceu, já vinham
se envolvendo e se dispondo a votar e a integrar a campanha eleitoral do
Jorge.
Cenas de uma novela da Rede Globo que retrata o caso Alexandre Ivo
Diante de todas essas questões; por até agora estarmos filiados ao PSOL
como um partido político de esquerda, libertário e socialista, principal
trincheira de luta das pautas LGBT - um partido cada vez mais necessário nesta
conjuntura regressiva em que vivemos -; pela reafirmação de que a luta requer a
reafirmação constante de uma postura ético-política e de caráter; pelo respeito
à memória de Alexandre, aos seus familiares e amigos, e aos militantes
políticos envolvidos; por acreditarmos na construção de um mundo igualitário,
sem LGBTfobia e todas as demais formas de opressão, dominação e de
desigualdades, elaboramos um documento a todos os envolvidos nesse processo,
com foco nos membros do partido, onde exigíamos publicamente que o candidato
Jorge Santana fizesse a devida autocrítica, pelo erro (pois temos conhecimento de
que era um militante do movimento estudantil da FFP-UERJ, portanto,
independente da sua relação com os supostos assassinos, deveria apurar sobre o
caso Alexandre Ivo, que teve com palco de um de seus Atos Públicos a própria
universidade) e as graves omissões pessoais, políticas e de caráter ético,
junto aos companheiros de militância partidária, retirando a sua candidatura a
vereador pelo PSOL de São Gonçalo nestas eleições municipais de 2016.
Um dos cartazes do movimento LGBT em memória a Alexandre Ivo
Para nossa surpresa fomos SUMARIAMENTE IGNORADOS, não tivemos nenhum
tipo de resposta, nem dos parlamentares envolvidos, nem do conjunto dos membros
filiados. Neste sentido, viemos a público denunciar que a retórica eleitoreira
não nos engana. Reafirmamos nossa luta, enquanto Movimento Alexandre (V)IVO,
pela defesa da vida e por tortura nunca mais, construindo nossas ações em
princípios éticos e morais que nos distanciam dos sepulcros caiados, com
aparência de novos, pois reforçam projetos burocráticos e eleitoreiros. Em nosso
projeto societário não cabe a falta de respeito, não cabe a falta de
solidariedade, não cabe a indiferença, não cabe a omissão, não cabe o
oportunismo, não cabem mesmo...nele cabem a ética, o coletivo, a verdade.
Campanha da ABGLT em memória de Alexandre Ivo:
Somos todos Alexandre Ivo - pela criminalização da homofobia
II Conferência Nacional LGBT
Agradecemos a todxs que estão conosco desde 2010 na construção de um
mundo possível sem LGBTfobia, sem racismo, sem machismo, sem hetero-cis-sexismo,
sem medo de ser diferente!
Vereador do PSOL Niterói Henrique Vieira presta homenagem (?) a Alexandre Ivo
Saudações
Movimento Alexandre (V)IVO
Angélica Ivo - mãe
Paula Ivo - irmã
Marco José Duarte - primo
e tantas e tantos outr@s