terça-feira, 18 de maio de 2021

NOTA DO MOVIMENTO ALEXANDRE (V)IVO SOBRE A MUDANÇA DE NOME DO CC-LGBT DE NITERÓI

 

PLACA

O Centro de Referência de Cidadania LGBT da Região Leste Fluminense, o CC-LGBT, sediado em Niterói, foi criado em 2012, no âmbito do Programa Estadual Rio Sem Homofobia, homenageando, à época, Alexandre Ivo, em placa inaugural e em um painel com diversas fotos do Alexandre, similar no auditório da unidade sediada na capital do Rio de Janeiro

PAINEL

É com pesar que relembramos que Alexandre Ivo (Alê) foi morto pela homofobia assassina no dia 21 de junho de 2010, caso que ganhou repercussão internacional, por ser um menino de 14 anos, covarde e cruelmente assassinado na cidade de São Gonçalo, vizinha de Niterói, periferia do Rio de Janeiro.

Durante esses quase 11 anos do seu assassinato e quase 9 como patrono – que dá nome - do CC-LGBT de Niterói, justo no dia 17 de maio de 2021, dia mundial de enfrentamento a LGBTIfobia, fomos surpreendidos da mudança de nome do referido Centro, agora chama-se CC-LGBT Paulo Gustavo. Vimos tal atitude de quem hierarquiza as mortes e as pessoas, preterindo um, em lugar de outro. Numa demonstração autoritária, típica do momento atual, sem diálogo com os familiares, os movimentos sociais LGBTI+, e, em particular, com o Movimento Alexandre (V)Ivo. Nega-se uma história de luta, uma representação digna de um conjunto de sujeitos e sujeitas LGBTI+ e suas ações de militância, que fazem referência à uma época, à uma memória, à uma multidão que lutavam pela criminalização da homo-transfobia.



É bom relembrar novamente, que, em 2011, o PLC 122, que tinha como teor a criminalização da LGBTIfobia, a Senadora Marta Suplicy e relatora, na época, em pedido aos familiares de Alexandre, queria batizar o referido projeto de lei de Alexandre Ivo, como a lei Maria da Penha, no sentido de “desdemonizar” o referido projeto. Isso não foi adiante, nem mesmo o próprio PLC. De igual modo, mas com outro conteúdo e proposta política, o então Deputado Federal Jean Wyllys apresentou um PL, sobre identidade de gênero, com o nome de João W. Nery, na época esse morador de Niterói, primeiro homem trans no Brasil e ativista, ainda era vivo.

Para nós, familiares e amigos de Alexandre Ivo, assim como o Mães pela Diversidade, que Angélica Ivo integra também, e que também publicou Nota, não estamos em nenhum momento desmerecendo a homenagem ao ator Paulo Gustavo, pela sua importância à cultura brasileira, morto pela COVID-19. Ela é justa e legítima, mas não apagando, silenciando e invisibilizando outra, que expressou a luta de tantas e tantos contra a LGBTIfobia nas cidades da região leste fluminense, da capital e do estado do Rio de Janeiro, tendo repercussões nacional e internacional.

Lamentamos muito por tudo isso, nos entristecemos e nos indignamos com o desrespeito e a memória do Alexandre, mas de muitas e muitos que fizeram essa luta coletiva contra a LGBTIfobia, como familiares, amigos e ativistas de um espectro mais amplo do movimento social LGBTI, combativo, mas sem ser colaboracionista com os setores conservadores que ocupam os poderes públicos desse país.

Apesar de suprimirem e apagarem um nome, uma história, uma memória, um legado coletivo de luta, que ainda é atual, a luta contra a LGBTIfobia é de todas, todes e todos, que constroem cotidianamente a luta também pela democracia e resistem com alianças dignas para defender a vida, pois cada corpo e corpa assassinado pela LGBTIfobia será por nós lembrados, nunca esquecidos, como tantas que foram pela vil tortura da ditadura civil-militar e que segue, de forma genocida, nas periferias, favelas, nos campos, nas aldeias, nos quilombos etc.

Movimento Alexandre (V)Ivo

São Gonçalo, 18 de maio de 2021.



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