O
Centro de Referência de Cidadania LGBT da Região Leste Fluminense, o CC-LGBT, sediado
em Niterói, foi criado em 2012, no âmbito do Programa Estadual Rio Sem Homofobia,
homenageando, à época, Alexandre Ivo, em placa inaugural e em um painel com
diversas fotos do Alexandre, similar no auditório da unidade sediada na capital
do Rio de Janeiro
É com pesar que relembramos que Alexandre Ivo (Alê) foi morto pela homofobia assassina no dia 21 de junho de 2010, caso que ganhou repercussão internacional, por ser um menino de 14 anos, covarde e cruelmente assassinado na cidade de São Gonçalo, vizinha de Niterói, periferia do Rio de Janeiro.
Durante
esses quase 11 anos do seu assassinato e quase 9 como patrono – que dá nome - do
CC-LGBT de Niterói, justo no dia 17 de maio de 2021, dia mundial de
enfrentamento a LGBTIfobia, fomos surpreendidos da mudança de nome do referido
Centro, agora chama-se CC-LGBT Paulo Gustavo. Vimos tal atitude de quem hierarquiza
as mortes e as pessoas, preterindo um, em lugar de outro. Numa demonstração
autoritária, típica do momento atual, sem diálogo com os familiares, os
movimentos sociais LGBTI+, e, em particular, com o Movimento Alexandre (V)Ivo.
Nega-se uma história de luta, uma representação digna de um conjunto de
sujeitos e sujeitas LGBTI+ e suas ações de militância, que fazem referência à
uma época, à uma memória, à uma multidão que lutavam pela criminalização da
homo-transfobia.
Para
nós, familiares e amigos de Alexandre Ivo, assim como o Mães pela Diversidade,
que Angélica Ivo integra também, e que também publicou Nota, não estamos em nenhum momento desmerecendo a
homenagem ao ator Paulo Gustavo, pela sua importância à cultura brasileira,
morto pela COVID-19. Ela é justa e legítima, mas não apagando, silenciando e
invisibilizando outra, que expressou a luta de tantas e tantos contra a
LGBTIfobia nas cidades da região leste fluminense, da capital e do estado do
Rio de Janeiro, tendo repercussões nacional e internacional.
Lamentamos
muito por tudo isso, nos entristecemos e nos indignamos com o desrespeito e a
memória do Alexandre, mas de muitas e muitos que fizeram essa luta coletiva contra a
LGBTIfobia, como familiares, amigos e ativistas de um espectro mais amplo do movimento
social LGBTI, combativo, mas sem ser colaboracionista com os setores conservadores que ocupam os poderes públicos desse país.
Apesar
de suprimirem e apagarem um nome, uma história, uma memória, um legado coletivo
de luta, que ainda é atual, a luta contra a LGBTIfobia é de todas, todes e
todos, que constroem cotidianamente a luta também pela democracia e resistem
com alianças dignas para defender a vida, pois cada corpo e corpa assassinado
pela LGBTIfobia será por nós lembrados, nunca esquecidos, como tantas que foram
pela vil tortura da ditadura civil-militar e que segue, de forma genocida, nas periferias, favelas, nos campos, nas aldeias, nos quilombos etc.
Movimento Alexandre (V)Ivo
São Gonçalo, 18 de maio de 2021.